Polifónica
24 Outubro a 05 Dezembro 2020
Porta33 Funchal
Rui Horta Pereira com Filipa Vala
Luísa Spínola e João Gonçalves
Photos by Carolina Vieira
Cooperação, reputação; obra, autor
Um processo de partilha criativa é um acto cooperativo. Em Polifónica, partiu-se de um conjunto de textos para a concretização de peças que, resultando de actividades individuais, formam um todo enquanto extensão da mesma voz inicial. Toda a cooperação tem por base mecanismos de reciprocidade e sabemos que na nossa espécie, como noutros primatas, somos capazes de atribuir “reputações” e que estas influenciam as nossas decisões de cooperação (tendemos a cooperar com aqueles que têm reputação de ser cooperantes). Mas na arte, como noutras áreas de atividade, a autoria (ou a marca) tem vindo a sobrepor-se à obra – ou, pelo menos, contribui decisivamente para a importância que lhe é atribuída. Será que a exacerbação da autoria é uma consequência indesejada dos mecanismos que nos permitem construir reputação? Numa “cambalhota evolutiva” terá a reputação (autor) passado a valer tanto ou mais que a ação (obra) nas nossas sociedades? Se assim for, Polifónica exprime um desejo re-fundador: o gesto subversivo de regresso ao anonimato da termiteira. A cooperação polifónica (ou des-autoral).