Erosão
27 Junho a 22 Novembro 2015
Comissário Sérgio Parreira
Convento de Cristo Tomar / Projeto Travessa da Ermida Lisboa
Photos by Bruno Lopes
(Excerto)
Entrevista a Rui Horta Pereira
7 de julho de 2015
“Recolho o que encontro, não vou necessariamente ao encontro, mas necessito das matérias. Sou um escultor com a necessidade da matéria”. A presente mostra exibe um núcleo de produções escultóricas produzidas por Rui Horta Pereira nos últimos cinco anos. Todas partilham o princípio da erosão, do desgaste da sua função primordial, e do reaproveitamento. São agora colocadas em diálogo no Convento de Cristo.
por Catarina da Ponte
O título desta exposição “Erosão (projeto de agregação contínua) ” dá a entender que este núcleo de obras que apresentas não começa nem termina aqui. Trata-se de um trabalho ‘work in progress’ ?
Diria que é um trabalho sempre em progresso, no qual existem várias etapas, sendo uma delas a da formalização e expressão pública. Um pouco como o processo de erosão no qual estão implicados vários aspetos, uns previsíveis outros nem tanto, mas que em dado momento atingem, por exemplo, pontos de colapso. Esta exposição é um claro exemplo disso mesmo, de continuidade e de duração, e de reação e adaptação a um espaço distinto, o que implica, necessariamente, uma reflexão sobre as questões que as instalações podem suscitar. e Este aspeto pode nunca estar fechado o que, do meu ponto de vista é bom sinal.
Podes falar-nos sobre este conceito de “Erosão”?
Estas peças abarcam um espectro temporal da minha criação escultórica de cinco anos. Foram concebidas em contextos distintos, mas ao pensar na exposição do Convento refleti sobre o modo e o sentido de as agrupar, um conceito que pudesse determinar e justificar a presença do conjunto naquele espaço, que lhes conferisse uma linha narrativa comum. Existe em todas elas um aspeto que defini como a perda ou desgaste da sua função primeira – daí serem matérias obsoletas – quer sejam madeiras cordas ou cacos. Uma espécie de erosão de sentido, mas que é também física.
Em certa medida, o meu processo e a minha ação consistem numa reabilitação, numa paragem do processo de desaparecimento. É quase (e isto é ambicioso) um ensaio de transposição para o oposto, que cria uma ilusão de nobreza, quando por exemplo, desloco cordas do fundo do mar para suspender como acontece na peça “tapete”, ou quando organizo um conjunto de fragmentos partidos no chão segundo um critério preceptivo, como é o caso da peça “Rede”. .
Como faço sempre, procuro na investigação referências de outras áreas e acabei por ler alguns textos sobre geomorfologia, ciclos de erosão, teoria acíclica pontos comuns e divergentes e como se conjugam em muitos casos. Mas voltando às matérias e ao conceito que as procura agrupar, gostaria ainda de referir que, na sua grande maioria, lido com material orgânico de base, que uma vez abandonado seria a seu tempo absorvido pela natureza, no entanto, o tempo em que isto acontece é distinto. É distinto para as cordas e para o território ocupado pelos eucaliptos de onde provem a peça “estacas”. Esta regeneração e capacidade natural de transformação implicam diretamente connosco e, estamos diretamente implicados na mesma. Esta reflexão é, o fio narrativo desta exposição, que não está só alocada ao processo, ao fazer, mas também à razão de fazer assim!
(…)