É
Curadoria Nuno Faria
7 Janeiro a 20 Fevereiro 2016
Fundação Carmona e Costa
Lisboa
Photos by Nuno Inácio
Excerto do texto da publicação realizada para a exposição
(…)o desenho é um projecto global, um eterno retorno, uma forma de resolver problemas, e de os criar, uma forma de distracção, um incessante modo de transporte, no espaço e no tempo. Aqui, não existem aqueles comprimidos analgésicos que ajudam a manter a forma, e já agora o estilo, e a matar a idiossincrasia. Há uma inquietação permanente, uma curiosidade indestrutível, mesmo nas horas de fome e de frio. O desenho é aqui resistência e respiração. É preciso continuar, mas não é evidente que seja a desenhar. Podemos pensar que se continua a desenhar «porque não se sabe fazer mais nada». Ao mergulhar no universo do desenho de RHP, penso que se trata exactamente do contrário: continua-se a desenhar porque se trata da linguagem mais refinada, mais performativa, mais propiciatória que o homem herdou (apurou, preservou). No desenho não há desenhador — o desenho toma conta daquele que desenha. É-se possuído pelo desenho, é-se formado pelo desenho, através dele. Forja (aquilo a que se chama) a individualidade.
Em RHP o desenho é, chamámos-lhe assim, um projecto global. E integral. E ininterrupto. Obsessivo, clarividente, irónico, omnisciente e inocente, em simultâneo. Importa dizer que exposição e publicação não são uma e a mesma coisa. Interceptam-se mas não coincidem exactamente, nem participam da mesma lógica de montagem. Há desenhos publicados que não são expostos e há desenhos expostos que não são publicados. As sequências e o alinhamento dos cadernos — em séries, em conjugações temáticas, reunidos por afinidade electiva ou porque sim — procuram encontrar os múltiplos fios narrativos, combinações, aproximações, contaminações, subversivas ou ostensivas, que gerem e geram o projecto rizomático que RHP conduz (ou através do qual é conduzido). (…)
Nuno Faria